Projection of the opressor
The opressor projecting into the oppressed, becomes a victim - a mechanism to defend the ego -, alike the contemporary example of Israel/Palestine. In this mental place, the opressor allows themselves to blame land theft, resources theft, into the oppressed, e.g. imposing the mask into the enslaved peoples in plantations to prevent them from eating sugar cane, cacau or dirt, as if they were stealing what was theirs. What’s more, refusing to see the bad in themselves, the opressor acts as if they are generous entity.
Arrival to the island of Mozambique
When arriving in the island, Camões describes the Portuguese as a peaceful entity, and the locals as a savage, or less savage if muslim (through Filiation, thus legitimisation - Poetics of Relation), group that is revengeful, and hateful. He describes them as if they are tricking the Portuguese into a sneaky deadly battle, when in fact the Portuguese were the ones who had just arrived. All of this is painted through the brush of the greek god Baco, trying to implant doubt into the locals to turn them against the Portuguese, because Baco wants them to fail in the route to India, to guarantee his continuous fame in the region. In this way, the Portuguese find a way to legitimise the violence and the killing - they tried to attack us. What’s more, Camões frames the killing, or the yet-to-kill as a generous act of condescendence - through metaphors such as a lion should not use all its power around sheep, because the sheep will die with less - the lion is generous in its aggression, and is so violent and powerful that it doesn’t need to show it off. Showing off is a behaviour of those who seek to hide their weakness.
Citations
“Esta dissociação evoca o facto de o sujeito branco se encontrar de alguma maneira dividido dentro de si, pois desenvolve duas atitudes para com uma realidade externa: só uma parte do ego - a parte “boa”, que acolhe e é benévola - é vivida como “eu”; o resto - a parte “má”, que rejeita e é malévola - projecta-se no “Outro” e é vivida como externa. O sujeito negro torna-se então ecrã de projecção daquilo que o sujeito branco teme admitir sobre si: neste case, que é o ladrão violento, o bandido indolente e malicioso. Estes aspectos aviltantes, tão intensos que provocam ansiedade, culpa ou vergonha são projectado externamente para que se lhes possa escapar.”
”(…) «a essência da repressão não é mais do que afastar algo da consciência, e mantê-lo à distância» (1923: 17). É aquele processo pelo qual as ideias incómodas – e as verdades incómodas – se tornam inconscientes, fora da consciência, dada a extrema ansiedade, culpa ou vergonha que provocam. Mas, sepultadas no inconsciente como segredos, permanecem latentes e podem ser a qualquer momento reveladas. A máscara que sela a boca do sujeito negro impede que o senhor branco ouça as verdades latentes de que se quer «afastar», de que quer «manter distância», nas margens, despercebidas e «silenciadas». Protege o sujeito branco, por assim dizer, de reconhecer o conhecimento da/o «Outra/o». Confrontado com os segredos colectivos e as verdades incómodas dessa história tão suja³, o sujeito branco costuma dizer que «não sabe», «não entende», «não se lembra», «não acredita» ou «não ficou convencido». São expressões deste processo de repressão pelo qual o sujeito resiste a tornar consciente a informação inconsciente; ou seja, quer tornar o conhecido desconhecido.”
Collected text for collage
Introdução
Porque tenho de escrever. Porque a minha voz em todos os seus dialectos, há muito está calada.
parece que toda a minha história está resumida nele.
longa história de silêncio imposto. Um história de vozes torturadas, línguas interrompidas, de idiomas impostos, de discursos interrompidos e dos muitos lugares em que não podíamos entrar nem ficar para falar com as nossas vozes. Tudo isto parece escrito nestes versos.
uma ânsia colectiva por ganhar voz
por escrever e recuperar a nossa história oculta.
obrigação moral
não o objecto, mas o sujeito;
de objecto à de sujeito
nesse espaço vazio que surge depois de nos opormos e resistirmos
lembrando o passado para compreender o presente, e estabeleço um diálogo constante entre ambos, pois o racismo quotidiano encarna uma cronologia atemporal.
Memórias da Plantação explora a atemporalidade do racismo quotidiano.
como mera reencenação de um passado colonial, mas como realidade traumática que tem sido ignorada
choque violente
como no cenário da plantação, é aprisionado como o outro subordinado e exótico
nesse passado agonizante
descrição de um instrumento colonial, uma máscara, como símbolo da política colonial e sádica branca
de silenciar a voz
porque se deve fechar a boca do sujeito negro? O que teria o sujeito branco de ouvir?
quem pode falar? Quem pode produzir conhecimento? Reconhece-se o conhecimento de quem?
bem como o fracasso do feminismo ocidental
Capítulo 1 - A máscara
A máscara
Ouvi falar muito de uma máscara em criança. Da máscara que Anastácia era obrigada a isar.
memórias vivas sepultadas
Trata-se de um instrumento autêntico, bastante concreto, que durante três séculos fez parte do projecto colonial europeu.
uma peça introduzida na boca
presa entre a língua e o maxilar e fixada na nuca com dois cordões, um à volta do queixo e outro, do nariz e da testa.
a máscara era usada oficialmente
durante o trabalho nas plantações, comessem cana-de-açúca ou sementes de cacau
implementar uma noção de silenciamento e medo, na medida em que a boca era lugar de mudez e de tortura.
política sádica da conquista e seus cruéis regimes de silenciamento
A boca
torna-se orgão por excelência da opressão
querem, e precisam de, controlar
a boca é também metáfora de posse
Imagina-se que o sujeito negro que algo que pertence ao senhor branco, o fruto: cana-de-açúcar e as sementes de cacau. Ele quer comê-los, devorá-los, expropriando o senhor dos seus bens.
plantação e os seu frutos
quem coloniza interpreta-o de maneira perversa, entende-o como sinal de roubo. “Nós tomamos o que é delas/es” transforma-se em “elas/eles tomam o que é nosso”.
o senhor rejeita o seu projecto de colonização e impõe-no a quem é colonizado.
de imposição no “Outro” daquilo que o sujeito recusa reconhecer em si, que caracteriza o mecanismo de defesa do ego
a negação é usda para manter e legitimar as estruturas violentas de exclusão racial: “Elas/es querem tomar o que é nosso, por isso precisam de ser controladas/os.”
Este é um retrato de Anastácia.
era filha de uma família real quimbundo; nasceu em Angola, foi levada para a Baía, no Brasil, e escravizada por uma família portuguesa.
princesa nagô/ioruba capturada por traficantes europeus e levada para o Brasil.
Anastácia foi o nome que lhe deram quando foi escravizada.
obrigada a envergar uma pesada coleira de ferro
há quem alegue ter resistido aos avanços amorosos do senhor branco;
tinha grandes poderes curativos, que fez milagres e era tida por santa
Após prolongado período de tormento
entre Dezembro de 1817 e Janeiro de 1818
impedir que comessem terra
para cometerem suicídio
simbolizar a brutalidade da escravatura
legado de racismo
resistência heróica
O sujeito negro transforma-se no inimigo intrusivo.
vítima compassiva, que é obrigada a controlar
o opressor torna-se o oprimido, e o oprimido, o tirano.
Esta dissociação evoca o facto de o sujeito branco se encontrar de alguma maneira dividido dentro de si, pois desenvolve duas atitudes para com uma realidade externa: só uma parte do ego - a parte “boa”, que acolhe e é benévola - é vivida como “eu”; o resto - a parte “má”, que rejeita e é malévola - projecta-se no “Outro” e é vivida como externa. O sujeito negro torna-se então ecrã de projecção daquilo que o sujeito branco teme admitir sobre si: neste caso, que é o ladrão violento, o bandido indolente e malicioso. Estes aspectos aviltantes, tão intensos que provocam ansiedade, culpa ou vergonha são projectado externamente para que se lhes possa escapar.
a branquitude
que personifica todos os aspectos que a sociedade branca reprimiu ou tornou tabu, ou seja, agressividade e a sexualidade.
ameaçador, perigoso, violento, vibrante, empolgante, e também com o que é sujo mas desejável,
própria se perceber como moralmente ideal, decente, civilizada e majestosamente generosa, em pleno controlo e sem a ansiedade provocada pela sua historicidade.
A ferida
dinâmica infeliz
“dissemelhança” para descrever a branquitude como identidade dependente graças à exploração do “Outro”,
fantasias essas que não nos representam a nós, mas ao imaginário branco
imagens oficiais e objectivas
Eu espero-me
inconsciente colectivo das pessoas
a alienação, para a desilusão e para o trauma psíquico
realistas nem gratificantes
Quanta mágoa esta, a de estarmos presas/os a esta ordem colonial.
Deveria ser esta a nossa preocupação.
“Que era para mim, senão um descolamento, um arrancamento, uma hemorragia que coagulava sangue negro sobre todo o meu corpo?”
o que sinaliza o doloroso impacto no corpo e a perda que caracterizam uma quebra traumática
é-se cirurgicamente extraída/o, violentamente separada/o
“Não podia [rir-me] Senti nascer em mim lâminas de faca”
não há motivo nenhum para rir
violentas fantasias que vê
Um círculo infernal.
Sou, em ambos os casos, prisioneiro
Encerado dentro do que não é racional.
não radica apenas em acontecimentos familiares
irracionalidade violenta do mundo branco
tão diferentes, incompatíveis e conflituosas/os quanto estranhas/os e invulgares
[Eu] era odiado, detestado, desprezado, não pelo vizinho da frente
qualquer coisa de irracional
para um homem que só tem como arma a razão, não há nada mais neurótico do que o contacto com o irracional
Dizer o silêncio
A máscara suscita
dizer se a sua boca não fosse selada?
confronto incómodo com as verdades
Verdades negadas, reprimidas e guardadas como segredos.
alguém está prestes a revelar o que se presume ser segredo.
Segredos como a escravatura.
Segredos como o colonialismo.
(…) “a essência da repressão não é mais do que afastar algo da consciência, e mantê-lo à distância» (1923: 17). É aquele processo pelo qual as ideias incómodas – e as verdades incómodas – se tornam inconscientes, fora da consciência, dada a extrema ansiedade, culpa ou vergonha que provocam. Mas, sepultadas no inconsciente como segredos, permanecem latentes e podem ser a qualquer momento reveladas. A máscara que sela a boca do sujeito negro impede que o senhor branco ouça as verdades latentes de que se quer “afastar”, de que quer “manter distância”, nas margens, despercebidas e “silenciadas”. Protege o sujeito branco, por assim dizer, de reconhecer o conhecimento da/o “Outra/o”. Confrontado com os segredos colectivos e as verdades incómodas dessa _história tão suja³, o sujeito branco costuma dizer que “não sabe”, “não entende”, “não se lembra”, “não acredita” ou “não ficou convencido”. São expressões deste processo de repressão pelo qual o sujeito resiste a tornar consciente a informação inconsciente; ou seja, quer tornar o conhecido desconhecido.
o ego controla e censura o que é instigado como verdade «incómoda».
interpretação duvidosa da realidade, e não suficientemente imperativo para ser dito ou escutado.
a emergência do falar
poder um dia ser escutado
negação, culpa, vergonha, reconhecimento, reparação
as dimensões mais desagradáveis da realidade externa e os pensamentos internos ou sentimentos.
a disociação e a projecção
“nós tomamos o que é delas/es”
“nós somos racistas”
para atenuar o choque emocional e a dor
“Tomamos realmente o que é delas/es”
a culpa, a emoção que se segue à transgressão de uma interdição moral.
um estado afectivo no qual se vive o conflito de ter feito algo que se acredita não dever ter feito, ou, ao contrário, não ter feito algo que se acredita dever ter feito.
procura afirmar nos outros o que teme reconhecer em si, como na negação
está atens preocupado com as consequências da sua própria transgressão: “acusação”, “culpa”, “punição”.
as respostas comuns à culpa são a intelectualização ou a racionalização
tenta estabelecer uma justificação lógica para o racismo
“para mim, não há negras/os ou brancas/os, somos todos seres humanos”
na ideia de que “a ‘raça’ realmente não importa”
estratégia para reduzir os desejos inconscientes de agressão dirigidos aos “Outros” e o sentimento de culpa
Por outro lado, a vergonha é o medo do ridículo, a resposta ao fracasso de estar à altura do ideal do próprio ego.
Ora, a vergonha apresenta uma relação íntima com o discernimento.
É motivada por experiências que contestam as pré-concepções que temos de nós mesmos e nos obrigam a ver-nos pelos olhos dos outros, e nos ajudam a reconhecer a discrepância
“Quem sou eu? Como me percebem”
reconhecimento é a passagem de fantasia para a realidade
Negoceia-se a realidade
Capítulo 3 - Dizer o indizível
situado na superfície de outras coisas
como “camada de tinta” que pode facilmente ser raspada
mera “coisa” externa, “coisa” do passado, que se situa nas margens em vez de no centro da política europeia.
Descolonizar o conhecimento
mostrando-lhe a cara, que, qual passaporte, me tornaria também um “corpo no lugar”.
Aquel papel permitir-me-ia entrar num espaço que a minha pele não permitia.
a impossibilidade de escapar ao corpo e às suas construções racista na “máquina lectiva”.
Não é apenas “peixe na água”; esta água tem peso:
um peixe na água que não sente o peso da água e toma o seu mundo por garantido
Neste mundo branco, sou peixe de água doce que nada na água do mar. Sinto o peso da água… no meu corpo.
fora e dentro dos agentes
Diziam-nos que lêssemos sobre os “Descobrimentos”, apesar de não nos lembrarmos termos sido descobertas/os. Diziam-nos que escrevêssemos sobre o grande legado da colonização, ainda que só nos conseguíssemos lembrar de roubos e humilhações. E diziam-nos que não fizéssemos perguntas sobre as/os nossas/os heroínas/heróis africanas/os, pois eram terroristas e rebeldes.
ensinar quem é colonizada/o a falar e escrever do ponto de vista de quem coloniza.
na língua que é familiar e confortável
Parece que tudo o que me rodeia foi, ainda é colonialismo.
não podia comer
poderia trabalhar como empregada doméstica, criada ou prostituta, mas não poderia viver; tinha sempre de regressar à margem.
e ver tudo com “novos olhos”,