“De facto, logo na cerimónia de tomada de posse, Marcelo Rebelo de Sousa evoca passagens da denominada “história mítica de Portugal”, onde pontificam, por exemplo, o “Milagre de Ourique”, ou as “Cortes de Lamego””

“Num artigo de opinião assinado no Jornal de Negócios, o presidente da República é coerente com o seu discurso de tomada de posse, sustentando o alegado recorte diferenciador e único dos portugueses - em que navega o lusotropicalismo -, ao assinalar ser sua tarefa “conhecer a História e as suas lições, saber que somos dos melhores em vocação universal, em pontes entre culturas, civilizações e continentes, por geografia, mar, língua, comunidades espalhadas pelo mundo, aptidão invulgar para apreender e incluir” (Sousa, 2016, s.p.)“

“Na sua primeira comemoração de um 10 de Junho enquanto presidente da República, fez regressar a habitual parada militar ao Terreiro do Paço (Lisboa), onde nunca voltara desde os tempos da ditadura, em que servia de palco das comemorações do Dia da Raça entre 1963 e 1973. Não sendo, em si, um ato eivado de lusotropicalismo, o facto é que o presidente logo se aprestou a sublinhar o alegado caráter diferenciador dos portugueses, o que sempre acontece que há comemorações do Dia de Portugal. Para Marcelo, o Terreiro do Paço concentra em si os factos mais importantes da História de Portugal, mesmo antes das “Descobertas”: “Aqui se misturaram gentes, culturas e produtos, vindos por terra ou trazidos por naus e caravelas dos lugares mais longínquos que fomos descobrindo (...). O nosso cosmopolitismo começou aqui” (Lopes, 2016, p. 6).”

“E também o humanismo e a portugalidade. (…) Portugalidade na nossa capacidade de ir e de voltar, trazendo à Europa o que ela desconhecia. Humanismo e portugalidade. (...) Aberto ao universo, sem limites físicos ou espirituais, ao melhor jeito da nossa portugalidade. Uma portugalidade ambiciosa, generosa, fraternal, franqueada a tudo e a todos. (...)"

“Portugal tem no mundo, de facto, um acolhimento singular”, e os portugueses “não têm razão para ter uma autoestima muito pequena”. O que configura “uma característica secular nossa, mas que está presente hoje. É um trunfo na política internacional” (…) Na oportunidade, o presidente reconheceu a injustiça da escravatura, lembrando que Portugal a aboliu em 1761. Motivou, no entanto, o lançamento de uma petição que ia no sentido de que Portugal devia pedir desculpas por ter sido esclavagista, à semelhança do que fez o papa João Paulo II, quando visitou o mesmo local, e que originou um debate crispado nos média portugueses” (see Peça Desculpas, Senhor Presidente - Luca Argel)

“O 10 de junho de 2018 foi assinalado em Ponta Delgada (Açores) e em Boston (EUA). Marcelo Rebelo de Sousa privilegiou a exaltação nacional, utilizando a letra do hino: “Heróis do mar que rasgámos, Nobre povo que resistiu a tudo e a tudo resiste”. Sublinhou ainda a riqueza na diversidade — “um só Portugal, feito de muitos portugais que podem e devem ser diversos (...) Entre milhares de luso-descendentes durante as comemorações, em Boston, deixava claro que “os Estados Unidos da América são um grande país, mas Portugal ainda é maior. Temos o maior país do mundo” (Expresso, 2018)“

“Ainda em território português, o presidente exortou a existência de “uma pátria sem complexos pelo passado, na construção do presente e na armação do futuro, num conjunto de vários portugais muito para além das fronteiras geográficas” (Ribeiro, 2019, p. 8).”

"Com a vandalização da estátua do Padre António Vieira, em Lisboa, a estar na ordem do dia, o que tinha sido aplaudido por parte daqueles que sempre disseram que a estátua era anacrónica pois, tendo sido inaugurada em 2017, mostrava Vieira rodeado de pequenos índios, o que evidenciava um paternalismo associado à época colonial portuguesa. (…) Defendeu que a história deve ser assumida como um todo, referindo-se em particular à estátua de Vieira. Considerou ainda que Portugal tem sectores racistas e xenófobos, mas defendeu que a maneira de lutar contra as discriminações “não é estar a destruir história, é fazer história diferente””

““Orgulhosamente português e por isso universalista. Convictamente católico e por isso dando primazia à dignidade da pessoa, ecuménico e contrário a um Estado confessional””